CURSO:
CAPACITAÇÃO SEMENTE DOS SABERES
TRABALHO:
LINHA DA VIDA
ALUNO:
LUIZ DOS SANTOS NETO
TRABALHO:
LINHA DA VIDA
Trabalho de
pesquisa apresentado à Universidade Estadual do Piauí – UESPI, tem como
requisito parcial apresentar a história da minha familia e associação na qual a
minha familia faz parte, exigido pelo curso de capacitação semente do saberes.
ESPERANTINA-PI
NOVEMBRO DE 2014
1
INTRODUÇÃO............................................................................................03
2
DESENVOLVIMENTO............................................................................................04
3
CONCLUSÃO.........................................................................................................10
4
REFERÊNCIAS......................................................................................................11
INTRODUÇÃO
O trabalho a seguir cita a atual história da organização de minha
comunidade, mostra também todas as etapas de construção da história, a
organização da minha familia, quem foram os principais fundadores, porque foi
formada, quais as mudanças mais importantes ocorreram, quem participou do
processo de mudança, quais os impactos destas mudanças e o que é produzido pela
minha organização e familia no âmbito da agricultura familiar.Neste sentido, o
trabalho descreve com detalhe como foi o processo de trabalho, o que eu pude
descobrir sobre a minha organização, e o que isso significa para mim.
DIAGNÓSTICO
PARTICIPATIVO DA COMUNIDADE NEGRA RURAL
QUILOMOLA OLHO DÁGUA
DOS NEGROS
4.1 - BREVE HISTÓRICO
A Comunidade
Olho D’água dos Pires, hoje Olho D’água dos negros, tem início no ano de 1847,
quando Mariano de Carvalho Castelo Branco e sua esposa, Rosa Maria Pires,
passaram a administrar a propriedade Boqueirão que Maria Rosa Pires e sua irmã
Calota Pires receberam do pai. Instalando-se no Boqueirão, Mariano Carvalho
Castelo Branco tratou de montar sua fazenda, dando início a construção da casa
grande e trazendo alguns escravos para sua propriedade.
Mariano
Carvalho Castelo Branco e Maria Rosa Pires tiveram três filhos. Em 1892, devido
a problemas de saúde, Mariano Carvalho Castelo Branco muda-se para Parnaíba-PI,
buscando tratamento médico, e deixa sua cunhada Calota Pires na administração
da fazenda. Inexperiente, Calota Pires vende a propriedade para seu irmão
Valdivino de Sousa Pires, que por sua vez entrega a administração da fazenda a
seu cunhado Manoel Ribeiro. Por volta de 1900, perfura-se uma cacimba que se
torna jorrante, dando início a um olho d’água. A partir daí a fazenda passou a
se chamar Olho D’água dos Pires, em alusão ao sobrenome do proprietário.
Valdivino de Sousa Pires e sua família, no ano
de 1907, em virtude do estado de saúde de Manoel Ribeiro, seu cunhado e
administrador da fazenda, passaram a morar na Olho D’água dos Pires. Na
propriedade, Valdivino de Sousa Pires encontrou muitos negros que por falta de
opção, continuavam morando e trabalhando na terra, ainda sob o regime de
escravidão.
Com a morte do Capitão Valdivino a fazenda passou a ser
administrada por Seus filhos Domingos Pires e Jacy Coelho Pires. Por motivos
pessoais Domingos Pires vende sua parte da propriedade para sua irmã. Por volta
de 1980, Jacy Coelho Pires tentou montar o mesmo regime da escravidão daquela
época, quando os seus avós trabalhavam com seus escravos, mas como os negros já
estavam mais informados não aceitaram a sua forma de trabalho, Jaci Coelho
Pires não resistiu à pressão dos negros que já estavam bem organizados para
reivindicar seus direitos e vendeu-a para o Dr. Francisco de Araújo Linhares,
advogado cearense que residia em Esperantina. Dr Linhares, como era mais
conhecido, em plenos anos 90 do século XX, passou a implantar o seu regime de
escravidão moderna; cercou o campo de futebol, proibiu a entrada dos negros na
área da Casa Grande (sede da fazenda) assim impedia-os de pegar água e frutas;
frutas que por diversas Dr. Linhares mandou envenenar. Além de atirar em
animais dos moradores que adentravam a área da Casa Grande, chegando ao absurdo
de disparar 3 tiros em um morador. As reminiscência históricas do período da
escravidão existente na comunidade (engenho, Casa Grande, cercas de pedra etc.)
passaram a ser destruídas intensivamente durante a gestão do Dr. Linhares. Já
com elevado nível de consciência e organização e com apoio de algumas
entidades, os moradores de Olho D’água dos Pires passaram a pressionar o Dr.
Francisco de Araújo Linhares para que o mesmo vendesse a propriedade. Em 2002,
com recursos de um projeto financiado pela entidade estrangeira FESTINOFRE,
conseguido com o intermédio do Centro de Educação Popular Esperantinense –
CEPES e de uma doação da Prefeitura de Esperantina-PI, a propriedade Olho
D’água dos Pires foi desapropriada. Em 2004, a conquista maior foi
concretizada, a prefeitura deu a propriedade em regime de comodato, por tempo
indeterminado, para a Associação de Desenvolvimento Comunitário dos Pequenos
Produtores da Comunidade Olho D’água dos Pretos – ADCOPOL. Hoje devido ao nível
de consciência e orgulho de serem negros, os moradores mudaram o nome da
comunidade para Olho D’água dos Negros. Esta comunidade é hoje referência na
região, tornando-se um centro de visitação de estudantes de todos os níveis de
ensino, desde o fundamental ao universitário. Então se sente a necessidade de
estarem resgatando essa cultura negra através de atividades que expressem a
realidade da região.
4.2 – LOCALIZAÇÃO
Olho D’água dos Negros como conhecido hoje, fica na Microrregião do Baixo Parnaíba Piauiense, no Território
dos cocais, localizada na zona rural do município de Esperantina-PI, a
18 km da sede da cidade. O acesso central da comunidade é feita através da PI
117 que liga os municípios de Esperantina a São João do Arraial e Matias
Olímpio, a comunidade dispõe de uma área limitada de aproximadamente, 677,6/há
de área livre, mais 169,6 de área de reserva legal totalizando em um total de
832,6/há. A comunidade Olho D’água dos Negros
limita-se ao norte com a localidade Cipó, ao sul com a localidade Vila Esperança,
ao leste com a localidade Morada Nova e a oeste com a localidade Santa Cruz.
4.3 FORMA DE ORGANIZAÇÃO
A comunidade se organiza através da associação de
desenvolvimento comunitário dos pequenos produtores da comunidade olho d´água
dos pires – ADECOPOL fundada em 1998, na qual pessoas de minha familia faz
parte da diretoria e do quadro social da mesma,sendo que é a instâncias
político-representativas da referida comunidade compostas por diretorias e
conselho fiscal eleitas em assembleia geral. Hojeexistem
no quadro social 70 associados,em função dessa organização. Em 2004 a
Comunidade Olho D’água, passou a ser denominada de comunidade quilombola Olho
D’Água dos Negros, por conta da reafirmação das famílias em se identificar como
quilombola, a Fundação Palmares com Base no decreto de Nº 4887/20 de Novembro
de 2003, expediu o registro de reconhecimento, tornando as famílias como
quilombolas. Através dessa definição por parte da comunidade o INCRA, órgão
responsável pelo processo de titulação expediu o título hoje a comunidade é
titulada, respectivamente, a comunidade também se organiza através do grupo de
jovens, na qual eu sou membros, tem como tradição a cultura tendo como
referência a dança do coco, capoeira de quilombo, time de futebol masculino e
feminino, dança de quadrilha, as comemorações anuais que são: festejo da
comunidade (padroeiro São Benedito), alforria dos negros, novenário do
mês de Maio, 20 de novembro dia da consciência negra.
4.3 – ASPECTOS GEOGRÁFICOS
A região faz parte do Território dos Cocais,
com vegetação de transição caatinga/cerrados e área de cocais. Segundo
levantamento através do Ater no Quilombo, feito pelo o EMATER, o solo predominante
na área estar assim distribuído: areno-argiloso e argilo-arenoso, sendo que 04
(quatros) eco paisagem predomina na referida área, Morro: essa
eco paisagem caracteriza-se pela presença de pedras, e seu relevo é mais
irregular, acidentado, variando de suave a forte ondulada, o solo apresenta-se
mais. Seco e a tonalidade varia de vermelho para amarelo, sempre misturado com
pedra e piçarras, apresenta boa drenagem e mantem-se úmido por mais tempo, as
áreas de Morro são pequena equivalente a 04/há, baixão: caracteriza-se
por ser uma área mais úmida das eco paisagem e encontram-se nas áreas mais
baixas possui solo de característica argilosa a coloração é a escura, a
fertilidade variando de media a alta. A área ocupada pelo baixões, atingem
cerca de 15/há, Mata Seca: essa eco paisagem caracteriza-se por
ser uma faixa de transição entre chapada e o baixão, o solo é de tipo de barro
geralmente seco ou misturado com areia, profundo com lençóis freático mais
superficial.
As variedades vegetais têm espécies tais
como: umburana de cheiro, ameixa, pau d’arco, favela, pitomba, jatobá,
marmeleiro, tucum, babaçu, carnaúba, cedro, tamboril, mufumbo, mororó,
jenipapo, jurema, pau pombo, mandacaru, jurubeba, espinheiro, amargoso,
azeitona, criuli, mutamba, sicupira, eucalipto, tamarina, buriti, figueira,
marfim, tamboril, pinho, torem, arranca toco, grão de bode, bacuri, pequi,
janaguba, amora, salsa, cajá, cajá-umbu, amêndoa, coco d’água, taboca, algumas
dessas plantas são utilizadas pela comunidade na medicina caseira e outras na
construção de infra estrutura como: cercas e casas.
Os animais silvestres existentes são: gato do
mato, onça preta, onça vermelha, gato maracajá, gato mariço, raposa, veado,
cutia, tatu, peba, mambira/tamanduá, preá, paca, onça pintada, cachorro do
mato, girita, guaxinim e jacaré. As aves existentes na localidade são: juriti,
jacu, bem-te-vi, vinvin, chico preto, pipira, papagaio, jandaia, galo campina,
corrupião, rechinou, sangue de boi, xoró, fogo Pagou, bigode, andorinha, papa
capim, gavião, frango d’água, tetéu, xexéu, garça, marreco, coruja, pica pau
preto, pica pau pedrês, coã, rescongo e siricora.
As cobras encontradas são: cascavel, coral,
de duas cabeças, papaova, caninana, salamanta, de cipó, veado, preta e
jararaca. Os animais domésticos são: galinha, pato, peru, capote, jumento,
caprinos, ovinos, suínos, bovinos. As frutíferas mais comuns são: ata, caju,
laranja, tangerina, cajuí, goiaba, ciriguela, limão, manga, mamão, amêndoa,
acerola, carambola, e banana. As principais culturas agrícola da região são:
arroz, milho, feijão, mandioca, fava, abóbora, melancia, quiabo, pepino, batata
doce e batata inglesa.
A
comunidade dispõe de forte presença de recurso hídricos, com 04 (quatro) poços
cacimbões, uma cacimba jorrante próximo a casa grande, 02 (dois) poço tubular
com bombas e sistema de encanação de água para as famílias, ainda como
potencialidade de recurso hídrico destaca-se os índices pluviométricos da
região, que chegam até 1.350mm/anos, existem também na comunidade energia monofásica
que beneficia todas as famílias.
4.4 – ASPECTOS DEMOGRÁFICOS
Na comunidade moram hoje 110 famílias, e conta com a
população de 660 habitantes, sendo 317 do sexo masculino e 343 do sexo
feminino. Os jovens representam um total de 46, destes 27 são homens e 19 são
mulheres. As crianças representam um total de 125, 60 são mulheres e 65 são
homens. Os adultos totalizam 448 pessoas, destes 200 são homens e 248são
mulheres, os idosos somam 41, onde 24 são homens e 17 são mulheres. O número de
membros por família está em torno de 06 pessoas.
4.5 –
ASPECTOS ECONÔMICOS
A Comunidade Olho D’água dos Negros
basicamente vive da agricultura familiar e criam pequenos e médios animais,
extração do babaçu, da fabricação caseira de doces, cultivo de roça de sequeiro
e do cultivo de hortas de forma agroecologia.
No cultivo agrícola as famílias produzem
(milho, arroz, feijão, mandioca),Planta-se ainda em menor
escala fava, abóbora, melancia, quiabo, pepino, batata doce e batata inglesa.Em
sua maioria o sistema utilizado no plantio é o consorciado e a área varia de
1,0 a 1,5 hectares por família, boa parte vai para o
auto consumo como: arroz, feijão e milho, a mandioca vai para o consumo humano
e dos animais, apenas o excedente é comercializado, algumas famílias já
trabalham com sistema de hortaliças orgânicas, horta do sistema pais:produção
agroecologia integrada sustentável. A colheita da
produção é feita manualmente, sendo armazenada em sacos de nylon, paneiros e
garrafas PET. É caracterizado basicamente pela agricultura familiar. Estas
culturas são produzidas utilizando o sistema tradicional de cultivo
inteiramente dependente de chuvas, cujos impactos de variações climáticas,
características da região, tornam-se extremamente vulneráveis e de alto risco
para a agricultura, ocasionando, dentre outros problemas, uma baixa
produtividade.
A semente cultivada é o grão produzido na
comunidade, guardadas individualmente em sacos de nylon, paneiros e garrafas
PET, as trocas entre os comunitários são constantes, poucos agricultores
utilizam sementes híbridas. Os habitantes da Comunidade Olho D’água dos Negros
consomem cerca de 90% da produção, comercializando o restante para comprarem os
demais materiais que não produzem. Geralmente o alimento é insuficiente para
alcançar a safra seguinte, o período crítico são os meses de janeiro a abril,
devido à baixa produção e falta de serviços (emprego). A
criação de suínos, bovinos, caprinos e ovinos é resumida a poucas cabeças,
criada no sistema semi extensivo. Compondo ainda a criação de galinha, pato,
peru e capote para o consumo doméstico.
Vale ressaltar que a horta sistema pais - produção agroecologia integrada
sustentável, é principal
atividade de minha familia, e gera uma boa renda, tanto
que atualmente é vendido 20 molho de cheiro verde ao dia, totalizando em 600
molho ao mês, vendido a 1,00 R$ é = 600,00 reais, além do cheiro verde, é
vendido mais 240 pés de alface ao mês a 1,50, = 360,00 R$, sendo que da
atividade da hortaliça a minha familia arrecada por mês um total de 960,00
reais.
O calendário sazonal da comunidade tem início
com o cultivo das culturas de milho ligeiro, arroz, mandioca e feijão. O
preparo da terra consiste outubro. O plantio geralmente ocorre no mês de
dezembro, variando de acordo com as primeiras chuvas. Uma capina é realizada em
janeiro e uma segunda em março, todas de forma manual. A colheita manual da
produção se dá em maio, seguido do beneficiamento e armazenamento que ocorre no
mês de junho.
AS PRINCIPAIS CONQUISTA:
ü Auto
reconhecimento;
ü Título
da terra;
ü Eletrificação
rural;
ü Água
encanada para as familia;
ü Conquista
da logomarca do grupo de doceiras;
ü Habitação
rural;
INFRA
ESTRUTURAS EXISTENTES:
ü 01
Posto de saúde;
ü 01
Colégio;
ü 02
poço tubular;
ü 01
cacimba jorrante;
ü 02
mini açude;
ü 01 Capela
para celebração do festejo do padroeiro São Benedito
ü Duas
horta sistema pais;
ü 02
campo de futebol para lazer.
CURSOS E CAPACITAÇÕES:
v Curso
de fabricação de caseiros;
v Curso
de manejo sanitário e alimentar de caprinos/ovinos;
v Curso
de associativismo;
v Curso
de galinha caipira;
v Curso
empreendedor rural.
ACESSO AOS PROGRAMAS SOCIAIS
DO GOVERNO FEDERAL:
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
APOSENTADORIA
VENDA DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
CONCLUSÃO
Durante a pesquisa foi importância a conversa com os idoso da comunidade,
onde eu pode descobrir, a real história de minha comunidade, além de fazer
análises em detalhes da história, fez-se o levantamento das estruturas
existente em minha comunidade, pode entender os importante fatos mais
importante como o auto reconhecimento das famílias em remanescente de
quilombolas, isso significa algo de muita importância para a minha vida. No que
diz respeito ao meu crescimento como pessoa e participante desse curso.
BIBLIOGRAFIA
FUNDAÇÃO
PALMARES – MINC. Laudo Antropológico de identificação e delimitação do quilombo Tapuio.
Nov./2004.
PLANO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL/ Projeto ATER no Quilombo EMATER/MDA/Nº 056/2007/META 18
DEPOIMENTOS:
- Luiz dos Santos 76 anos,
neto do escravo José Altino, que serviu na “Casa Grande”.
-Aldelina
Maria da Conceição, 77 anos, liderança e fundadora da comunidade.
-Claudio Henrique da Silva 44 anos, atual liderança e coordenador
das comunidade quilombola do território dos cocais.
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